Carlos Ruiz

Carlos Ruiz trabalha na área do cinema desde 1990

Carlos Ruiz Carmona é um cineasta e produtor cuja obra atravessa diferentes formas de expressão cinematográfica, do drama ficcional ao documentário de observação, com uma forte presença em festivais internacionais e um percurso construído entre Portugal, Espanha e o Reino Unido. Desde o início da sua carreira, tem revelado uma sensibilidade particular para histórias que abordam o íntimo, a marginalidade e os conflitos humanos com um olhar poético, comprometido e atento aos detalhes. Em meados da década de 1990, começou a afirmar-se no panorama europeu com o filme Rooftop, distinguido com o prémio de Melhor Argumento no Festival Internacional de Cinema de Valência e distribuído nos cinemas Odeon, em Londres. Esta primeira afirmação marcaria o tom de uma carreira marcada pela consistência artística e pelo reconhecimento crítico.

Em 1999, dirigiu a sua primeira longa-metragem de ficção, To Anyone Who Can Hear Me, uma obra que viajou por vários festivais europeus, de Taormina a Edimburgo, de Madrid à Figueira da Foz, e que arrecadou o Grande Prémio para Melhor Longa-Metragem de Ficção, bem como o Prémio do Júri Internacional de Jornalistas. Esta estreia no formato longo confirmou a maturidade da sua abordagem narrativa, enraizada numa dimensão emocional contida, mas intensa, e numa procura constante por personagens em luta com os seus próprios silêncios.

A sua relação com o cinema expandiu-se também pela via da produção, como demonstrado em 2001 com Shadows, filme que viria a ser selecionado para o Festival Internacional de Roterdão e estreado no Columbia Tri-Star Preview Theatre, em Londres. No entanto, é com o documentário Retrato, concluído em 2004, que Carlos Ruiz Carmona atinge um novo patamar de visibilidade e reconhecimento. Este trabalho foi exibido em diversos festivais internacionais — Taiwan, Ancara, Roma, DocLisboa, Helsínquia, entre outros — e premiado com o galardão Cidade de Madrid para Melhor Longa-Metragem Espanhola. A riqueza visual e conceptual do filme valeu-lhe ainda uma Menção Honrosa no Festival de Tui. Posteriormente, Retrato foi selecionado pelo Instituto Miguel Cervantes para um circuito internacional de exibição em cidades como Moscovo, Xangai, Estocolmo ou Casablanca, sendo também difundido em 2013 através do canal Eurochannel, com projeção em várias regiões do mundo.

Entre o universo da ficção e a observação documental, Ruiz Carmona nunca deixou de experimentar e expandir o seu vocabulário artístico. Em 2009, assinou o drama Roots, premiado no Festival de Cinema Independente de Braga com o Prix Bracara Augusta, além de ser distinguido como Melhor Curta-Metragem no Festival Internacional de Cinema do Minho. Nos anos seguintes, entre 2011 e 2015, o realizador intensificou a sua presença no espaço televisivo, desenvolvendo uma série de documentários institucionais e ensaísticos, transmitidos na RTP e noutras plataformas, onde se destacam títulos como Um Estudo das Possibilidades, Uma Nova Narrativa para a Europa ou O Jantar que Nunca Aconteceu. Neste mesmo período, também se dedicou à realização de filmes sobre a obra de artistas contemporâneos como Rui Chafes, Alberto Carneiro, Susana Solano e Didier Faustino, revelando uma atenção sensível à materialidade, ao gesto artístico e às poéticas do espaço.

Em 2011, realizou a curta-metragem Greve, mais tarde exibida na RTP2 e em salas da Cinemateca em cidades como Valência, Murcia e Santiago de Compostela. Seguiu-se, em 2016, a produção de uma série documental para televisão intitulada A Minha Tese, composta por treze episódios que dão a ver o pensamento, os afetos e as inquietações de jovens investigadores em Portugal. Mas é com CRU — filme rodado ao longo de quase uma década no Porto e concluído em 2017 — que Carlos Ruiz Carmona aprofunda uma abordagem autoral marcada pelo tempo, pela escuta e pela presença prolongada. O documentário teve a sua estreia mundial na Competição Internacional do festival DOK Leipzig, e continuou o seu percurso com passagens por eventos como o Visions du Réel, na Suíça, e o Festival Internacional de Avanca, onde recebeu uma Menção Honrosa em 2018.

Ao longo das últimas décadas, Ruiz Carmona tem construído um cinema atento ao social e ao sensível, articulando uma ética de proximidade com uma estética que privilegia a contenção, o detalhe e a escuta. Em 2024, completou a sua segunda longa-metragem de ficção, O Céu em Queda, uma representação poética da natureza enigmática do desejo, do amor e da dor persistente de viver com as consequências das nossas ações. A obra teve a sua estreia em novembro de 2024 no Festival Caminhos do Cinema Português, onde recebeu uma Menção Honrosa do Júri, e prepara agora a sua estreia internacional em 2025, com apresentações já confirmadas em Itália e na Noruega. Está também prevista a sua distribuição em sala ao longo do próximo ano, marcando assim um novo capítulo na filmografia de Carlos Ruiz Camona — um realizador que continua a afirmar a importância do cinema como espaço de escuta, de intimidade e de resistência estética.